A Geopolítica do Mar Negro: A Nova Postura do Kremlin e os Desafios para um Acordo de Segurança Marítima
Em uma recente declaração, o Kremlin destacou que várias condições precisam ser cumpridas antes que um novo acordo de segurança marítima no Mar Negro, negociado com os Estados Unidos, entre em vigor. A declaração surge após acordos separados com Ucrânia e Rússia para cessar os combates na região e pausar ataques a alvos energéticos, com a administração Biden prometendo pressionar para a suspensão de algumas sanções contra Moscou. A Rússia, no entanto, permanece cética quanto à efetividade dos termos acordados, apontando o fracasso de um acordo anterior que não atendeu suas necessidades econômicas.
A Iniciativa do Mar Negro e o Fracasso de 2023
Em 2023, Moscou retirou-se do acordo original sobre a segurança marítima no Mar Negro, mediado pelas Nações Unidas e pela Turquia em 2022. A razão principal para a retirada russa foi o não cumprimento das promessas relativas às exportações de alimentos e fertilizantes. O Kremlin argumentou que, apesar da promessa de facilitar suas exportações, as restrições às suas remessas – particularmente nas áreas de pagamentos, logística e seguros – continuaram a dificultar o comércio de grãos e fertilizantes russos. Moscou afirmou que, sem a remoção desses obstáculos, não haveria confiança suficiente para reatar o acordo.
A Demanda Russa: Reconexão ao Sistema Swift
Uma das principais exigências da Rússia para que o novo acordo seja efetivado é a **reconexão de seu banco agrícola estatal Rosselkhozbank ao sistema internacional de pagamentos Swift. Esta medida, que facilita as transações financeiras globais, é vista como um passo necessário para garantir a fluidez das exportações agrícolas russas, especialmente após as sanções econômicas ocidentais. Para que essa condição seja cumprida, seria necessário o consenso dos países europeus, cujas opiniões sobre a suspensão de sanções estão divididas.
A Perspectiva Russa: Condições para a Ativação do Acordo
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, enfatizou que a Iniciativa do Mar Negro atual poderá ser ativada apenas após a implementação de várias condições, que são, em grande parte, as mesmas do acordo anterior. Segundo Peskov, a justiça deve prevalecer desta vez, e Moscou continuará a trabalhar com os norte-americanos, aguardando o cumprimento de compromissos específicos para garantir que seus interesses econômicos sejam respeitados.
Implicações para a Geopolítica Global
O impasse no Mar Negro não envolve apenas questões econômicas, mas também profundas implicações geopolíticas. A segurança dessa via marítima é crucial para a estabilidade global e para os fluxos comerciais internacionais, especialmente os relacionados à exportação de grãos e fertilizantes. A falta de acordo definitivo pode afetar múltiplos países e suas economias, especialmente em regiões como a África e o Oriente Médio, que dependem das importações russas de alimentos e fertilizantes.
Além disso, a questão das sanções econômicas é uma das principais linhas de frente na luta política entre o Ocidente e a Rússia. As negociações sobre o sistema Swift são emblemáticas da maior disputa sobre controle financeiro global e o impacto das sanções nas economias de nações que são alvo de restrições.
O Futuro do Mar Negro
O futuro da segurança marítima no Mar Negro continua envolto em incertezas. A Rússia, embora aberta à possibilidade de um acordo, exige garantias claras de que suas necessidades econômicas sejam atendidas. A questão das sanções internacionais e da conectividade bancária será um fator decisivo para o sucesso ou fracasso de qualquer novo entendimento. Com a pressão crescente sobre os países envolvidos, a solução para a crise no Mar Negro exigirá um compromisso sólido entre as potências globais e uma resolução diplomática que balanceie as necessidades políticas e econômicas das partes envolvidas.
