A Guerra na Ucrânia e seus Impactos Geopolíticos: Três Anos de Conflito e a Nova Dinâmica EUA-Rússia
A guerra na Ucrânia completará três anos em 24 de fevereiro de 2025, e as últimas semanas marcaram uma virada significativa no conflito, especialmente pela aproximação entre os EUA e a Rússia. Esse novo cenário tem gerado divisões entre os aliados históricos, como Europa, Ucrânia e Estados Unidos, refletindo interesses divergentes e incertezas sobre o futuro da guerra.
Mudança no Governo dos EUA e as Negociações com a Rússia
O novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos abriu uma nova porta para a Rússia, com o presidente afirmando que poderia resolver rapidamente o conflito na Ucrânia e assumindo a liderança nas negociações. Em fevereiro de 2025, Trump anunciou conversas com o presidente russo Vladimir Putin sobre a guerra, enquanto o secretário de Defesa, Pete Hegseth, declarou ser improvável que a Ucrânia recupere todo o território perdido desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. Essa posição gerou desconfiança na Ucrânia e entre os líderes europeus, que temiam ser deixados de fora de uma possível negociação de paz com a Rússia.
Na sequência de uma reunião entre autoridades dos EUA e da Rússia em Arábia Saudita, a Ucrânia se sentiu excluída das negociações, e a tensão aumentou quando Trump chamou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de "ditador sem eleições", enquanto Zelensky acusava Trump de tentar obter riquezas minerais em troca de apoio. A dinâmica política tornou-se complexa, com as duas potências em disputa sobre o futuro da Ucrânia.
Os Interesses dos Principais Atores no Conflito
Interesses dos EUA: Trump condicionou o apoio dos EUA à Ucrânia à exploração de terras raras no país, que abrigam minerais valiosos como manganês, urânio, titânio, lítio e gás. Zelensky, no entanto, rejeitou um acordo que não garantisse a segurança da Ucrânia. Além disso, Trump sugeriu que a Ucrânia realizasse eleições presidenciais, algo inviável em meio à Lei Marcial.
Interesses da Ucrânia: Zelensky busca a devolução da Crimeia, a retirada das tropas russas e o retorno das fronteiras de 2014. Além disso, o governo ucraniano almeja ingressar na OTAN e na União Europeia. No curto prazo, continua a pedir ajuda militar e financeira para combater a Rússia, e considera a presença de tropas europeias para garantir a segurança do país no pós-guerra.
Interesses da Rússia: Putin defende a desnazificação da Ucrânia e teme a adesão ucraniana à OTAN, acusando os EUA de violar uma promessa de não expandir a aliança militar. Moscou busca manter o controle sobre territórios estratégicos como a Crimeia e as regiões ricas em recursos naturais e minerais no leste da Ucrânia, como Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia.
Interesses da Europa: Para a Europa, a estabilidade da Ucrânia é crucial, pois teme que a Rússia continue suas agressões no futuro. A segurança do continente depende de uma solução eficaz para o conflito. Ao mesmo tempo, a dependência energética da Rússia, principalmente do gás, complica a posição europeia. Em 2025, o fim do trânsito de gás russo pela Ucrânia afetou o fornecimento para a Europa.
Implicações Globais: O Desafio para a Europa e o Impacto no Mundo
O especialista em Relações Internacionais, Uriã Fancelli, alerta que a postura de Trump, ao alinhar-se com a narrativa russa, pode enfraquecer a OTAN e alterar a dinâmica de segurança global. Esse movimento representa um choque para a Europa, que historicamente depende dos EUA para garantir sua segurança. Fancelli prevê que a Europa poderia ser a mais afetada, caso um acordo de paz favorecesse a Rússia, levando à necessidade de maiores investimentos em defesa e, consequentemente, à realocação de recursos de setores essenciais, como bem-estar social. Esse cenário poderia enfraquecer ainda mais a coesão interna e fortalecer partidos extremistas pró-Rússia.
Além disso, a guerra na Ucrânia teve impactos econômicos globais significativos, desestabilizando o comércio internacional e provocando inflação em várias regiões do mundo.
A guerra na Ucrânia está longe de chegar ao fim, e os novos desenvolvimentos nas negociações entre EUA e Rússia exigem atenção cuidadosa. A divisão de interesses e a nova configuração de alianças podem redefinir o futuro geopolítico da Europa, da Ucrânia e do mundo. Em um cenário mais amplo, o impacto da guerra pode se estender para questões econômicas, políticas e de segurança, com repercussões para países além da Europa e da Rússia.