O Dólar em Alta e as Expectativas sobre o Pacote Fiscal do Governo
Em um dia de grande volatilidade nos mercados, o dólar fechou com leve alta nesta terça-feira (17), atingindo um novo recorde histórico de R$ 6,0956. Este aumento reflete uma série de fatores que influenciaram diretamente o mercado cambial, especialmente o clima de incerteza em torno do pacote fiscal do governo, que aguarda votação no Congresso Nacional.
O Impacto Inicial do Pacote Fiscal
A forte alta do dólar pela manhã foi desencadeada pela piora das expectativas do mercado financeiro com relação ao pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal. O pacote visa economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos e alcançar um total de R$ 375 bilhões até 2030. O governo está em busca de reduzir seus gastos para zerar o déficit público nos anos de 2024 e 2025, ou seja, o governo pretende gastar o mesmo valor que arrecada nesses dois anos, conforme as regras do arcabouço fiscal.
Este movimento foi interpretado de forma negativa pelos investidores, pois o mercado esperava que o governo fizesse ajustes em gastos estruturais, como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo, e os pisos de investimento em saúde e educação. Contudo, essas mudanças não foram contempladas no pacote fiscal, o que gerou desconfiança sobre a capacidade do governo em controlar o avanço da dívida pública no longo prazo.
Intervenções do Banco Central e o Papel de Arthur Lira
Após o pico de alta, que levou a moeda norte-americana a atingir a marca de R$ 6,20 pela primeira vez, o Banco Central (BC) interveio no mercado com vendas de dólares, o que ajudou a amenizar a alta da moeda, que voltou para a casa de R$ 6,12. No entanto, a volatilidade continuou, com o dólar chegando a bater R$ 6,2065 na máxima do dia, antes de diminuir sua alta.
A reviravolta no comportamento do dólar só ocorreu quando o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, anunciou que um dos textos do pacote fiscal seria votado ainda naquele dia. A expectativa de que o governo poderia avançar em sua agenda fiscal contribuiu para uma redução da pressão sobre a moeda, que finalmente baixou da casa dos R$ 6,10.
O Arcabouço Fiscal e a Questão do Déficit Público
O arcabouço fiscal é um conjunto de normas que visa o controle das contas públicas e estabelece que o governo deverá começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, com o objetivo de controlar o endividamento do país. A meta é gerar superávits fiscais, ou seja, superávits orçamentários que permitam o controle da dívida pública a longo prazo.
Contudo, o mercado está cada vez mais cético quanto à eficácia das medidas propostas pelo governo, já que as expectativas de reformas estruturais não foram atendidas. A ausência de ajustes em áreas cruciais, como a Previdência e os benefícios sociais, levanta questionamentos sobre a viabilidade do plano de redução do déficit público e do controle do endividamento.
A Reação do Mercado e o Contexto Econômico
A flutuação do dólar nesta terça-feira é um reflexo direto das incertezas fiscais que pairam sobre a economia brasileira. A moeda norte-americana tem sido particularmente sensível a qualquer sinal de fragilidade fiscal, uma vez que a falta de confiança nas ações do governo pode desencadear movimentos especulativos no mercado cambial, resultando em oscilações de preços. Além disso, o mercado também tem demonstrado preocupação com a capacidade do governo de lidar com sua agenda fiscal no longo prazo, o que influencia diretamente o risco-país e, consequentemente, o valor do real em relação ao dólar.
Em suma, o aumento do dólar reflete a crescente preocupação do mercado com a sustentabilidade fiscal do país, principalmente no que diz respeito ao controle da dívida pública e à implementação de medidas fiscais efetivas. O pacote de cortes de gastos, embora tenha como objetivo reduzir o déficit, foi visto com ceticismo devido à falta de ajustes em áreas estruturais, o que fez com que o mercado reagisse de forma volátil, especialmente no início do dia.